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Formação humana e educação no contexto de mundialização do conhecimento
Motricidades: Rev. SPQMH, v. 1, n. 1, p. 65-77, set.-dez. 2017 | ISSN 2594-6463 |
DOI: http://dx.doi.org/10.29181/2594-6463.2017.v1.n1.p65-77
Mostra-se, neste modo de organização, um arco hermenêutico que se dá no
movimento entre a parte e o todo, a subjetividade/intersubjetividade, o homem que é
corpo na corporeidade do mundo, numa dialética de oposições sempre inacabada
.
O contexto de mundialização que vem sendo denominado de “sociedade do
conhecimento” (knowledge society), ou “sociedades de saberes”
traz novas dicotomias
e complexidades para o ser humano, ressaltando-se a importância da postura filosófico-
hermenêutica dos sujeitos envolvidos no processo diante do conhecimento, da cultura e
da sociedade, como possibilidade para superar a contradição entre saberes e seu
ser/fazer. Isso pode ser concretizado a partir da pesquisa, a constante busca e interesse
em decifrar os enigmas postos pelas questões que passam na sociedade, para o devir.
Isso, no dizer de Maffesoli (2010, p. 32), permitiria “fazer com que se manifestassem”,
“no devir espiralesco do mundo”, as “características da episteme pós-moderna”. Para
Bauman (1999, p. 250), “[...] é inteiramente diferente viver com a consciência pós-
moderna de que não há nenhuma saída certa para a incerteza; de que a fuga à
contingência é tão contingente quanto a condição da qual se busca fugir”.
A transformação epistemológica pela qual vêm passando a produção e a difusão
do conhecimento não mais permite a segmentação dos espaços de pesquisa de ensino e
de extensão em áreas compartimentadas (LUCCHESI; MALANGA, 2008, p. 1546). E
como isto se dá na ação educativa dirigida ao formar? Para além da interpretação
compreensiva, a ação educativa solicita explicações. Estas gestam-se a partir de uma
dialética fina entre o conhecimento considerado culturalmente válido e as compreensões
que surgem da inteligibilidade que se articula como discurso na interioridade do ser e,
assim sendo, buscam sentidos, solicitam linguagem. Solicitam ainda, no processo,
extrapolações, movimentos que geram novos conhecimentos, levando a possíveis
intervenções na concretude do mundo, o que implica, mais do que transladar e
interpretar, “transfazer”. O processo de produção do conhecimento requer que o sujeito
projete tendências para outros lugares, tempos e espaços; investigue, busque novos
Destacamos aqui, no âmbito da Sociedade de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana (SPQMH),
a proposta do VII Colóquio de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana (UFSCAR, 2017). Segundo
o entrevistado, Prof. Dr. Luiz Gonçalves Junior, há uma mudança no enfoque comumente trabalhado da
Educação Física para a Motricidade Humana, nesta última “[...] partimos do corpo-objeto para corpo-
próprio, o corpo encarnado” (UFSCAR, 2017, p. 1). Esse novo paradigma compreende o ser como
intencionalidade, que se dirige para o mundo, às coisas e aos demais seres humanos com os quais
compartilha o mundo. Mais ainda, “Na área de Motricidade Humana é ímpar a importância da pesquisa
qualitativa, já que essa metodologia favorece estudos que consideram o ser humano em sua integralidade”
(UFSCAR, 2017, p. 1). Observa ainda o entrevistado, a sinergia entre a Ecomotricidade e o Bem Viver. A
Ecomotricidade entendida como “[...] as práticas desenvolvidas com intencionalidade relacionada a
processos educativos de reconhecimento das relações ser humano-ambiente, que primam pelo diálogo
entre Educação Ambiental, Motricidade Humana e Pedagogia dialógica” (UFSCAR, 2017, p. 1); e Bem
Viver – descrito como “[...] o princípio dos povos indígenas latino-americanos que propõe alternativa à
ideia moderna do progresso” (UFSCAR, 2017, p. 1). Amplia-se desta forma a “[...] discussão em torno
dos estudos de Motricidade Humana, em diálogo crítico e igualitário com outras epistemologias e outros
projetos coletivos estéticos que primam pelo convívio, pela coexistência e pela corresponsabilidade”
(UFSCAR, 2017, p. 1).
“[...] diferentemente da noção de sociedade da informação guiada apenas pela tecnologia, as “sociedades
de conhecimento” são “minddriven” guiadas pelo espírito. Por outro lado, a recusa em se recorrer à noção
singular de “sociedade global” e de se adotar a noção plural de “sociedades” ratifica o fato de que os
modos de apropriação das tecnologias são resultado da diversidade das configurações de atores inscritos
nos contextos institucionais, culturais, industriais e políticos. Em síntese, é reconhecida a especificidade
dos “regimes epistêmicos” [...] A noção de “conhecimento” vem do termo inglês “knowledge”. Ora, a
etimologia da palavra inglesa “knowledge” está estreitamente ligada ao seu verbo auxiliar “can”. Ambos
remetem à utilidade e ao poder. Nas línguas latinas, ao contrário, existe um termo alternativo: “saber”,
cuja etimologia está ligada à raiz indo-européia “sap”, “saber” e “ter o sabor de”, de onde se originam
palavras como “sabedoria”, “sapiência”. O saber remete à teoria” (MATTELART, 2005, p. 14).