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Maria Carolina Derencio Oliveira; Tiago Grifoni; Nathan Raphael Varotto
Motricidades: Rev. SPQMH, v. 4, n. 1, p. 15-26, jan.-abr. 2020 | ISSN 2594-6463 |
DOI: http://dx.doi.org/10.29181/2594-6463.2020.v4.n1.p15-26
INTRODUÇÃO
Atribui-se a origem das práticas do Fútbol Callejero
em meados de 1994, às
imediações de um bairro empobrecido chamado Moreno, em Buenos Aires, na
Argentina (ROSSINI et al., 2012; VAROTTO et al., 2018). Inicialmente, suas vivências
eram realizadas por classes populares, com enfoque aos “[...] jovens moradores de
periferias urbanas empobrecidas” (VAROTTO et al., 2018, p. 105), uma vez que, por
intermédio do Fútbol Callejero, busca-se a recuperação do “[...] espaço de
protagonismo e diálogo entre os jovens, em um contexto onde a violência estrutural
atravessava todas as relações: familiares, no bairro, a escola e com a comunidade”
(VAROTTO et al., 2018, p. 106).
Desse modo, sua proposta crítica ganhou destaque entre educadores que
começaram a difundir a cultura do Fútbol Callejero como um espaço social de educação
e cidadania (SILVA GUTIERREZ; DOTTO; ALLET, 2016). Essa associação do
esporte com o lazer adquiriu tamanhas proporções que, atualmente, tem-se:
[...] o Movimento Fútbol Callejero como um instrumento de mobilização e
organização da juventude. A ideia fundamental é voltar às raízes do futebol
de rua, uma prática desportiva de lazer autorregulada, onde regras são
previamente acordadas e tacitamente respeitadas por todos os participantes de
um jogo, sem a necessidade de uma regulação ou autoridade externa (SILVA
GUTIERREZ; DOTTO; ALLET, 2016, p. 20).
Com início na América Latina, esse movimento é formado, até o momento, por
um conjunto de 14 organizações sociais das Américas do Sul e Central
(MOVIMIENTO, 2020). O Movimento Fútbol Callejero compartilha a missão, a partir
da metodologia característica do Fútbol Callejero, de “[...] construir cidadania, defender
os direitos humanos, lutar pela justiça, promover uma sociedade inclusiva e reconhecer
a diversidade cultural e étnico-racial” (MOVIMIENTO, 2013, s.p.).
Alguns autores, como Rossini et al. (2012), conforme citado por Varotto,
Gonçalves Junior e Lemos (2017), destacam que:
A metodologia do “Fútbol Callejero” propõe regras que o torna diferente do
futebol convencional: meninas e meninos jogam juntos, não participam
árbitros/as e as partidas se dividem em três tempos. No primeiro tempo, as
equipes estabelecem as regras do jogo em conjunto e de maneira consensual,
no segundo tempo se joga a partida e no terceiro tempo, todos/as os/as
jogadores/as dialogam sobre o desenvolvimento do jogo e se houve respeito
às regras acordadas mutuamente (p. 93).
Desse modo, a partir das regras estabelecidas no primeiro tempo, como também a
partir das pontuações a elas atribuídas, torna-se vitoriosa a equipe que mais pontuar
nesses acordos (VAROTTO; GONÇALVES JUNIOR; LEMOS, 2017). Por
consequência, o ato de marcar gol “[...] deixa de ser a principal ferramenta para a vitória
e com isso o jogo se dá e se faz valer [...] pelos três pilares do Fútbol Callejero:
cooperação, respeito e solidariedade” (VAROTTO et al., 2018, p. 107).
No “Fútbol Callejero” há no terceiro tempo diálogo entre todos/as os/as
envolvidos/as acerca dos acontecimentos no jogo, que vão desde o
A expressão Fútbol Callejero é originária da língua espanhola que, em português, pode-se traduzir para
“Futebol de Rua” ou “Futebol Rueiro”. Todavia, ao longo do texto, a expressão será mantida em
espanhol, a fim de assegurar a essência e originalidade da expressão originária da Argentina.