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Escrevivências na andarilhagem de uma pesquisadora em práticas sociais e processos educativos
Motricidades: Rev. SPQMH, v. 7, n. 3, p. 196-210, set.-dez. 2023 | ISSN 2594-6463 |
DOI: http://dx.doi.org/10.29181/2594-6463-2023-v7-n3-p196-210
INTRODUÇÃO
Este ensaio é fruto de discussões sobre Práticas Sociais e Processos Educativos
descrito de forma poética e acadêmica possibilitando reflexões críticas ao colonialismo do
saber, do poder e do ter, conforme Ailton Krenak (2020), Paulo Freire (1987), Ernani Maria
Fiori (1991), Enrique Dussel (2003; 2016) e Nelson Maldonado-Torres (2013).
Entendemos que a prática social acontece por meio das interações que se estabelecem
entre as pessoas e delas com os diferentes ambientes (cultural, social e natural) que se
sustentam na visão de mundo transformando jeitos de ser e viver (Oliveira et al., 2014).
Assim, é preciso compreender durante a pesquisa os processos educativos presentes nas
comunidades em suas práticas sociais. Como enfatiza Tafuri (2021) as práticas sociais se dão
entre as pessoas com intencionalidade em busca da transformação da realidade, estabelecendo
relações com elementos políticos e culturais para o fortalecimento dos projetos coletivos.
Destarte, por meio da linguagem metafórica, que se estabelecerá como o termo
“colcha de retalho”. A colcha de retalhos está associada ao cotidiano de muitas pessoas na
América Latina, pois representa uma construção do que é reaproveitado para um fim útil.
Aliada a esta construção há diferentes significados, pois é importante querer ser costurado/a e
não ficar isolado/a (OLIVEIRA et al., 2008). O ensaio vai fazer esse convite, por meio da
analogia da colcha, a cada pesquisador/a para adentrar neste trabalho manual que requer
atenção aos detalhes, precisão e uma visão geral coesa. O texto estará estruturado com o
entrelaçar da trajetória da pesquisadora com os autores anteriormente citados.
Para uma práxis transformadora da realidade da pesquisadora foram percorridos
diferentes caminhos, frente aos desafios e embates sociais que estavam impregnados no
movimento de um corpo afetado pela colonialidade do ter, do ser e do saber que silenciam as
pessoas das comunidades tradicionais (tais como, indígenas, ribeirinhas, quilombolas...) e das
demais excluídas socialmente (mulheres, negros, pessoas com deficiência, pessoas de baixa
renda, idosos, dentre outras).
Nesse sentido, a andarilhagem é apresentada como forma de relatar: caminhos,
percursos, trajetos, sendas, saberes, sabores, dores e cicatrizes que foram se configurando no
processo de aprendizagem existencial, por falar sobre vidas, sobre humanidade, pessoas reais
que se reconfiguram na trajetória de cada pesquisador/a, e passa a constituir estratégia e
construir identidade e raízes a partir do saber de experiência feito, filosófico, reflexivo e
crítico, abrindo novas possibilidades no alargamento do olhar para a realidade social, cultural,
ambiental e econômica: contextualizada em diferentes tempos-espaços da experiência vivida
por esta pesquisadora, ressignificados no presente.
Este trabalho apresenta-se dividido em sessões que receberão formas a ser desenhadas
em cada pedaço de tecido da “colcha de retalho” tendo como ponto de partida o entendimento
que os bens naturais são essenciais para o viver; em seguida, apresentaremos as concepções
sobre a colonialidade do ter, do poder e do saber que propiciam a compreensão das
intersubjetividades vivenciadas na realidade da pesquisa de campo, na sequência a
compreensão do papel da pesquisadora frente aos desafios impostos pelo eurocentrismo. Ao
final são apresentadas as considerações com interlocuções críticas alusivas ao conhecimento
epistemológico em relação às práticas sociais e processos educativos.
PRIMEIRAS PALAVRAS NA CONFECÇÃO DA COLCHA DE RETALHOS DO SABER VIVER
Cada pesquisador/a, pensando a seu modo, forma uma grande colcha no processo da
investigação científica. Para realizar este feito é preciso fazê-la junto com as pessoas, como
ressalta Paulo Freire (1987). Tanto uma colcha de retalhos quanto uma pesquisa são formados