v. 7, n. 3, p. 211-223, set.-dez. 2023 | ISSN 2594-6463 |
Motricidades: Rev. SPQMH, v. 7, n. 3, p. 211-223, set.-dez. 2023 | ISSN 2594-6463 |
DOI: http://dx.doi.org/10.29181/2594-6463-2023-v7-n3-p211-223
Motivação, autorregulação e autocontrole:
orientações para a prática do profissional do exercício físico
Motivation, self-regulation and self-control: guidelines for the practice of physical exercise professionals
Motivación, autorregulación y autocontrol: directrices para la práctica de profesionales del ejercicio físico
ELAINE CRISTINA DESTÉFANI MANSO
1
; BRUNO ALLAN TEIXEIRA DA SILVA
2
;
MARCELO CALLEGARI ZANETTI
3
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU, USJT, SÃO PAULO-SP, BRASIL
RESUMO
Buscando entender os fatores que implicam na falta de engajamento e desistência em programas de exercícios,
muitas pessoas apontam a falta de interesse pela atividade ou eleição de outras prioridades, indicando déficits na
motivação, percepção de prazer e falta de tempo como os motivos mais comuns. A literatura vem contribuindo
com diversas hipóteses, modelos e teorias para auxiliar na compreensão desses fatores, e considerando que o
comportamento ativo envolve uma interação multifatorial, buscar compreender os diferentes tipos de motivação
e os mecanismos envolvidos na autorregulação e autocontrole, pode fornecer insights importantes. Nesse sentido
propomos nesse ensaio explanar e discutir os fatores psicossociais da motivação, autorregulação e autocontrole
em comportamento de atividade física/exercício, como também sugerir estratégias de intervenção para a prática
dos profissionais do exercício de forma a auxiliar na adoção/adesão do comportamento ativo.
Palavras-chave: Motivação. Autorregulação. Autocontrole. Exercício.
ABSTRACT
Seeking to understand the factors that imply the lack of engagement and withdrawal from exercise programs,
many people point to the lack of interest in the activity or choice of other priorities, pointing to deficits in
motivation, perception of pleasure and lack of time as the most common reasons. The literature has contributed
with several hypotheses, models and theories to help understand these factors, and considering that active
behavior involves a multifactorial interaction, seek to understand how the different types of motivation and the
mechanisms involved in self-regulation and self-control can provide important insights. In this sense, we propose
in this essay to explain and discuss the psychosocial factors of motivation, self-regulation and self-control in
physical activity/exercise behavior, as well as suggest intervention strategies for the practice of exercise
professionals in order to assist in the adoption/adherence of active behavior.
Keywords: Motivation. Self-Regulation. Self-Control. Exercise.
RESUMEN
Buscando comprender los factores que implican la falta de compromiso y abandono de los programas de
ejercicio, muchas personas señalan la falta de interés en la actividad o la elección de otras prioridades, indicando
déficits en la motivación, la percepción de placer y la falta de tiempo como los factores más comunes. La
literatura ha aportado diversas hipótesis, modelos y teorías para ayudar a comprender estos factores, y
considerando que la conducta activa implica una interacción multifactorial, buscar comprender los diferentes
tipos de motivación y los mecanismos implicados en la autorregulación y el autocontrol puede proporcionar
ideas importantes. En este sentido, nos proponemos en este ensayo explicar y discutir los factores psicosociales
de la motivación, la autorregulación y el autocontrol en la conducta de actividad/ejercicio físico, así como
sugerir estrategias de intervención para la práctica de los profesionales del ejercicio con el fin de ayudar en la
adopción/adherencia de un comportamiento activo.
Palabras clave: Motivación. Autorregulación. Autocontrol. Ejercicio.
1
Doutoranda em Educação Física pela USJT. E-mail: elainedestefani@hotmail.com. ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-8519-987X.
2
Doutorando em Educação Física pela USJT. E-mail: allans3@hotmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-
0002-8299-6918.
3
Professor e Orientador de s-Graduação da USJT. E-mail: marcelo.zanetti@saojudas.br. ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-5424-6175.
212
Elaine Cristina Destéfani Manso; Bruno Allan Teixeira da Silva; Marcelo Callegari Zanetti
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INTRODUÇÃO
Ao longo de rias décadas a ciência vem reportando os inúmeros benefícios
fisiológicos e psicológicos promovidos pela atividade sica, tais como: redução dos riscos de
desenvolvimento de doenças crônicas, controle da massa corporal, diminuição do risco de
morte prematura por doenças cardiovasculares, diabetes e ncer (GARBER et al., 2011),
melhora da saúde mental (CECCHINI et al., 2017), como também melhora da autoestima,
humor e bem-estar psicológico (JOHANSSON; HARTIG; STAATS, 2011). Mesmo diante
das relevantes contribuições da ciência e esforços de diversas instituições no sentido de
conscientizar e promover uma sociedade mais ativa, dados epidemiológicos apontam que a
grande maioria da população mundial ainda não atende às recomendações nimas de
atividade sica (GARBER et al., 2011; WHO, 2018). Considerando que a inatividade física é
diretamente responsável pelo surgimento e desenvolvimento de diversas patologias, promover
ações e estratégias para tornar a população mais ativa caracteriza-se como uma prioridade
global (LEE et al., 2012).
Tendo em vista que a maioria das pessoas são insuficientemente ativas ou sedentárias
no tempo de lazer (ROMBALDI et al., 2010), e outras, ao se envolver em programas de
exercício físico abandonam a prática nos primeiros seis meses (DISHMAN; BUCKWORTH,
1996), torna-se pertinente buscar compreender as nuances do comportamento humano a fim
de sugerir estratégias que possam auxiliar em intervenções com desfechos positivos. De fato,
muitos pesquisadores vêm investigando os processos psicológicos envolvidos na adoção de
atividade física e adesão em programas de exercícios de forma a identificar motivos que
levam as pessoas a abandonarem a prática, como também os lapsos que impedem o início e a
continuidade do comportamento ativo (RODGERS et al., 2010). Buscando compreender
porque os indivíduos não praticam atividade sica/exercício
4
de forma regular, alguns estudos
(JIMÉNEZ-TORRES; GODOY-IZQUIERDO; GARCÍA, 2012; ASHTON et al., 2016)
investigaram quais fatores estariam associados ao não engajamento, sendo relatada a falta de
motivação e de tempo como os mais comuns.
Segundo Biddle e Mutrie (2001) o engajamento da atividade física envolve uma
interação complexa entre influências biológicas, ambientais, sociais e psicológicas, o que vem
desencadeando inúmeras pesquisas a fim de compreender os determinantes motivacionais do
comportamento do exercício. Hagger e Chatzisarantis (2008) apontam que as compreensões
das inflncias psicológicas no comportamento do exercício, como a motivação, podem
fornecer mecanismos e bases importantes para intervenções em ambientes de exercício.
Nesse sentido, a maioria dos adultos provavelmente está ciente dos benefícios da
atividade física/exercício, entretanto os baixos níveis de motivação, falhas de autorregulação e
autocontrole podem estar relacionados com a inatividade física (TEIXEIRA et al., 2012;
HAGGER et al., 2010). Para Hagger et al. (2010) a autorregulação é um importante
componente psicossocial do comportamento que apresenta associação positiva com a baixa
adesão do exercício, pois exige que as pessoas demandem autocontrole no sentido de evitar
falhas de autorregulação que pode resultar em lapsos de adesão e desistência. Assim, segundo
os autores a inatividade sica pode resultar de uma falha autorregulatória.
Tendo em vista o baixo engajamento à prática de atividade física/exercício relatado na
literatura, compreender fatores apontados como cruciais para a adoção e a prática sustentada,
é de suma importância. Dessa forma propomos nesse ensaio, explanar e discutir os fatores
4
A atividade física pode ser definida como qualquer movimento corporal produzido pela musculatura
esquelética que requer gasto de energia acima dos níveis de repouso, o exercício físico é toda atividade física
planejada, estruturada e repetitiva que tem por objetivo a melhoria e a manutenção de um ou mais componentes
da aptidão física (CASPERSEN; POWELL; CHRISTENSON, 1985).
213
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psicossociais da motivação, autorregulação e autocontrole em comportamento de atividade
física/exercício, como também sugerir estratégias de intervenção para a prática dos
profissionais do exercício de forma a auxiliar no combate à evasão e não aderência à prática.
MOTIVAÇÃO EM CONTEXTO DE ATIVIDADE FÍSICA E EXERCÍCIO
Especificamente na área da atividade física e do exercício, a motivação vem sendo
abordada em diversas pesquisas (HAGGER; CHATZISARANTIS, 2007; 2009; TEIXEIRA et
al., 2012), com o intuito de compreender as nuances do comportamento motivado e possíveis
formas de intervenção que possam resultar em maior adesão à prática de atividade
física/exercício. Nesse sentido, nas últimas décadas diversos modelos e teorias foram
desenvolvidos para tentar compreender fenômenos relacionados ao comportamento humano,
dentre eles, a Teoria da Autodeterminação (TAD) de Deci e Ryan (1985) vem se
consolidando como uma das mais coerentes e lidas para explicar a motivação humana
(MORENO; MARTÍNEZ, 2006).
A TAD é uma macroteoria psicológica da motivação que examina o impacto de
comportamentos autônomos versus não autônomos na motivação (DECI; RYAN, 1985;
2000). Originada de uma perspectiva humanista, portanto fundamentalmente centrada na
satisfação das necessidades, na autorrealização e na realização do potencial humano, a TAD é
uma macroteoria abrangente e em evolução da personalidade humana e do comportamento
motivado (DECI; RYAN, 2000). O conceito base da teoria é construído a partir da
sustentação de que o ser humano, naturalmente, é inato para a aprendizagem, o crescimento e
o desenvolvimento, sendo dotado de características que lhe permitem superar as adversidades
e com potencial de ter plena saúde psicológica e social. Contudo, o ambiente é responsável
por nutrir ou frustrar a tendência inata que o ser humano tem de se envolver ativamente e se
desenvolver psicologicamente (DECI; RYAN, 1985; 2000).
Com o objetivo de tentar explicar um conjunto de fenômenos motivacionais, a TAD
utiliza-se de seis microteorias, sendo elas: Teoria da Avaliação Cognitiva (TAC), Teoria da
Integração Organísmica (TIO), Teoria de Orientações de Casualidade (TOC), Teoria das
Necessidades Psicológicas Básicas (TNPB), Teoria de Conteúdo de Metas (TCM) e a Teoria
da Motivação de Relacionamentos (TMR) (DECI; RYAN, 1985; 2000).
Segundo Deci e Ryan (1985; 2000) as microteorias da TAD, abordam os seguintes
temas:
a) Teoria da Avaliação Cognitiva: destaca o estudo da motivação intrínseca,
significando a intenção de fazer algo pelo prazer e pelo sentimento de satisfação que a
atividade desenvolvida proporciona;
b) Teoria da Integração Organísmica: visa explicar como ocorre o desenvolvimento
dos indivíduos, tendo como perspectiva a diferencião e integração dos estímulos externos,
através das regulações da motivação extrínseca;
c) Teoria de Orientações de Casualidade: caracteriza-se em evidenciar as diferentes
regulações do comportamento dos indivíduos, por meio dos três tipos de orientações de
causalidade: a orientação autônoma, na qual as pessoas agem espontaneamente, fazendo
escolhas autodeterminadas; a orientação controlada, focada nos resultados, prêmios ou
qualquer tipo de bonificação que uma atividade pode trazer; a orientação impessoal, na qual
as pessoas apresentam tendências a comportamentos com ausência de orientação intencional;
d) Teoria das Necessidades Psicológicas Básicas: na qual estão inseridas as
necessidades de autonomia, competência e relacionamento;
214
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e) Teoria do Conteúdo de Metas: diferencia os objetivos intrínsecos (constituídos de
contribuição com a comunidade, saúde, crescimento pessoal e afiliação), que se contrapõem
aos objetivos extrínsecos (como sucesso financeiro, fama e aparência física);
f) Teoria da Motivação de Relacionamentos: postula que a qualidade de
relacionamentos é essencial para o bem-estar do indivíduo.
A TAD postula que a motivação humana é representada por um continuum
motivacional estando determinado por diferentes níveis de autonomia, sendo essa
compreendida por regulações autônomas e controladas, sendo composta por elementos
intrínsecos e extrínsecos (DUNCAN et al., 2010). De acordo com a teoria, o extremo do
continuum é ocupado pela amotivação, que é a ausência de motivação para agir, seguido da
regulação extrínseca (composta por regulações: externa, introjetada, identificada e integrada),
que é o resultado de alguma força impulsionada externamente, e por fim, no extremo oposto e
mais autodeterminado, encontra-se a regulação intrínseca, que é o resultado da motivação
internalizada, prazerosa (DECI; RYAN, 1985; 2000).
A amotivação, primeiro nível do continuum, refere-se ao estado motivacional que
pode ser encontrado em indivíduos que não estão suficientemente aptos a identificar bons
motivos para realizar uma determinada atividade, ou seja, o estão dispostos a agir naquela
direção, a realizar aquela ação, a atingir aquele alvo, a alcançar aquele objetivo (DECI;
RYAN, 1985; 2000).
A motivação extrínseca é aquela em que o indivíduo ingressa em uma atividade por
expectativas de resultados favoráveis ou outras contingências não necessariamente inerentes à
própria atividade, sendo composta por quatro categorias: a) regulação externa, é o tipo mais
controlado de motivação extrínseca e se relaciona com as ações realizadas para obter
recompensas ou evitar punição, ou seja, quando o comportamento é regulado por meios que
podem variar desde as possíveis premiações materiais até o medo de possíveis consequências
indesejáveis; b) regulação introjetada, quando uma fonte de motivação externa é
internalizada, podendo ser representada por pressões internas, como a culpa, necessidade de
pertencimento ou obediência; c) regulação identificada, quando o indivíduo realiza uma
tarefa ou uma ação comportamental que não pode ser considerada de sua personalidade, ou
seja, não se trata de uma manifestação intuitiva própria, mas o indivíduo a executa por
considerá-la importante por influência de outrem, mesmo que não lhe seja interessante,
agradável ou prazeroso; e d) regulação integrada, é aquela motivação que em algum
momento foi externa, mas que gradativamente integrou-se ao sistema de valores do indivíduo
(DECI; RYAN, 1985; 2000).
Por fim, a motivação intrínseca, ocupa o extremo mais autodeterminado do
continuum, sendo aquela em que o indivíduo ingressa em uma atividade por vontade própria,
diga-se, pelo prazer e pela satisfação do processo de conhecer uma nova atividade.
Comportamentos intrinsecamente motivados estão associados com o bem-estar psicológico, o
interesse, a alegria e/ou a disposição à tarefa (DECI; RYAN, 1985; 2000). Um estado
motivacional intrínseco é ideal porque está associado a um maior esforço e concentração,
ótima saúde e bem-estar psicológico, aprendizado mais efetivo e afeto positivo
(MCLACHLAN; HAGGER, 2011).
215
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Figura 1: Continuum motivacional segundo a Teoria da Autodeterminação.
Fonte: Adaptado Deci e Ryan (2000).
Por uma tendência ao crescimento e bem-estar, os indivíduos podem passar de formas
de motivações controladas para tipos de motivações cada vez mais autônomas. Tal processo
foi denominado de internalização (EDMUNDS; NTOUMANIS; DUDA, 2006). Nesse
sentido, a internalização denota um processo progressivo em que o controle de motivos para
uma tarefa antes desinteressante pode se tornar cada vez mais autônomo (STANDAGE;
SEBIRE; LONEY, 2008).
Dentro da TAD, sugere-se que os indivíduos podem evoluir para formas mais
autônomas de motivação se forem satisfeitas três necessidades psicológicas básicas que são
postuladas pela teoria como fundamentais para a saúde psicológica, funcionamento ideal e
bem-estar, que o: a) autonomia, ter livre escolha para se envolver em atividades e
capacidade de tomada de decisões; b) competência, avaliação da capacidade percebida de ser
bem-sucedido durante uma tarefa; e c) relações sociais, sensação de ter uma experiência
compartilhada com os outros, sensação de pertencimento (DECI; RYAN, 1985; 2000).
Segundo Ntoumanis, Edmunds e Duda (2009), a satisfação das necessidades
psicológicas básicas pode ser promovida ou frustrada por diferentes facetas do ambiente
social, sendo elas: a) Suporte à autonomia: refere-se à provisão de apoiar escolhas e
minimizar pressões; b) Suporte à competência: refere-se ao fornecimento de tarefas
desafiadoras, porém possíveis de alcançar e limitão de feedback negativo; e c) Suporte de
relacionamento: refere-se a propiciar um ambiente empático e positivo, fortalecendo vínculos
afetivos e boa interação social.
Ryan e Frederick (1997) apontam que se essas três necessidades forem satisfeitas ao
longo da vida os indivíduos tenderão a experimentar um senso contínuo de integridade e bem-
estar ou “eudaimonia”, estado pleno de felicidade. Dessa forma, quando o ambiente social
promove a satisfação das necessidades psicológicas básicas, o bem-estar psicológico tende a
ser experimentado, facilitando a motivação intrínseca e assim levando ao comportamento
autodeterminado (VALLERAND, 2017; DECI; RYAN, 2000). Nesse sentido, a TAD oferece
insights ao considerar o continuum de regulação motivacional, sugerindo que o atendimento
das necessidades psicológicas básicas possibilita a internalização progressiva de
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comportamentos orientados de forma extrínseca para comportamentos cada vez mais
autodeterminados (DECI; RYAN, 2000).
Teixeira et al. (2012) apontam que a motivão é um fator crítico no apoio ao
exercício sustentado, que por sua vez, está associado a importantes desfechos de saúde.
Entretanto, mesmo diante de todas as evidências, para muitos indivíduos a prática de
atividades sicas/exercícios nem sempre é interessante, então para o profissional do exercício,
entender o processo de internalização da TAD pode ter uma importância particular para
melhorar a motivação autônoma em contextos de exercício (STANDAGE; SEBIRE; LONEY,
2008).
Uma outra questão importante é que provavelmente a motivação para o exercício
mude com o tempo, já que os motivos dos indivíduos para iniciar o exercício podem ser
diferentes daqueles que os motivam a manter um programa de exercícios (BOX et al., 2019).
De fato, vários tipos de motivação são apontados para influenciar o esforço despendido
durante as sessões de exercícios, bem como as intenções de continuar se exercitando
(HEINRICH et al., 2014). Outrossim, compreender como os diferentes tipos de regulação
motivacional influenciam o comportamento para o exercício é um passo importante na
identificação de formas a tornar o comportamento mais autodeterminado, aumentando o nível
de atividade física/exercício entre os indivíduos e elevando as chances de manutenção do
comportamento a longo prazo (DUNCAN et al., 2010).
A motivação intrínseca poderia ser promovida enfatizando a diversão, a
melhoria de habilidades, a realização pessoal e a excitação durante o
exercício. O foco deve ser não apenas a quantidade de exercício realizado,
ou a adeo a longo prazo, mas também no bem-estar e vitalidade
aprimorados associados ao exercício. De fato, a motivação intrínseca tem se
mostrado não apenas relacionada à persistência em uma tarefa, mas também
à saúde psicológica e melhoria do bem-estar (TEIXEIRA et al., 2012, p. 23).
Nesse sentido o engajamento na atividade por si mesma e sem estímulos externos
através do prazer, interesse e curiosidade inerentes durante a atividade, é uma tendência inata
do ser humano segundo os pressupostos da TAD (DECI; RYAN, 2000; VANSTEENKISTE;
NIEMIEC; SOENENS, 2010). Considerando que fatores motivacionais representam um
aspecto crucial para a adesão a longo prazo da atividade física e programas de exercício
(MCLACHLAN; HAGGER, 2011; THØGERSEN-NTOUMANI et al., 2016), torna-se de
extrema importância difundir entre os profissionais do exercício tais preceitos para que os
conhecimentos científicos produzidos possam alcançar maiores aplicações práticas,
contribuindo dessa forma para a transformação de uma sociedade mais ativa.
AUTORREGULAÇÃO E AUTOCONTROLE: REFLEXÕES PARA PROMOVER COMPORTAMENTO
ATIVO
A autorregulação é um importante aspecto psicossocial do comportamento humano, e,
especificamente em contextos de exercício, a falta de habilidade de autorregulação está
associada à baixa adesão (HAGGER et al., 2010). Pesquisadores identificaram que lapsos de
autorregulação foram mediadores importantes para comportamentos relacionados à saúde,
incluindo a prática de exercícios (DISHMAN, 1994). Segundo Carver e Scheier (1998) a
autorregulação é um termo amplo que se refere a um processo dinâmico no qual o indivíduo
determina um objetivo e busca agir para atingi-lo monitorando o processo. Nesse sentido, a
autorregulação envolve não apenas a definição de objetivos, mas também o direcionamento
do comportamento por meio de planejamento, implementação de planos, proteção dos
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objetivos de preocupações concorrentes, e às vezes, até desistência (LUDWIG;
SRIVASTAVA; BERKMAN, 2019). Assim, a abrangência da autorregulão inclui além da
direcionalidade do comportamento, a modificação de pensamentos e emoções em busca de
atingir um objetivo definido, demandando, em muitas situações, esforço de autocontrole
(INZLICHT et al., 2021).
O autocontrole pode ser compreendido como um processo de resolução de conflitos
entre dois objetivos concorrentes (INZLICHT et al., 2021), ou seja, entre um objetivo que
promove satisfação imediata versus outro objetivo em que a recompensa requer maior prazo
para ser conquistada (FUJITA, 2011). Nesse sentido, Baumeister (2005) refere que a
capacidade de se abster de satisfazer uma necessidade ou desejo imediato é extremamente
adaptável e permite que as pessoas se envolvam em comportamentos direcionados a objetivos
que proporcionem resultados desejáveis em longo prazo. Dessa forma, o autocontrole é
caracterizado pela inibição de impulsos, superações de pensamentos, sentimentos e
comportamentos indesejados que possam minar o processo em busca de um objetivo em que a
recompensa requer longo prazo (BAUMEISTER; VOHS, 2007).
Pessoas com maior autocontrole são mais propensas a serem bem-sucedidas em
alcançar objetivos em longo prazo. Em contraste, lapsos de autocontrole podem resultar em
incapacidade de aderir a comportamentos ou executar ações (BAUMEISTER;
HEALHERTON, 1996). Considerando que a adesão ao exercício é um comportamento que
para a maioria das pessoas irá exigir muitos recursos de autocontrole, compreender processos
psicológicos que levam à autorregulação é essencial, para que sejam desenvolvidas estratégias
eficazes na prática do profissional do exercício de forma a auxiliar na adesão dos alunos
(HAGGER et al., 2010).
O modelo força-energia propõe que a autorregulação é um processo do
comportamento que demanda autocontrole, sendo este um recurso finito e vulnerável que
tende a se esgotar com o tempo, podendo resultar em falha autorregulatória, ou seja, os
indivíduos sentem-se incapazes de aplicar esforços com sucesso para resistir às tentações,
impulsos e hábitos inadequados. Considerando que a demanda de autocontrole para uma
atividade e/ou tarefa demandará umvel de esforço ao longo do tempo, um período de
descanso ou recuperação será necessário para reestabelecer o autocontrole. Neste caso, o
fracasso da autorregulação devido ao esgotamento dos recursos de autocontrole é denominado
de esgotamento do ego (BAUMEISTER et al., 1998).
Utilizando a estrutura fornecida pelo modelo força-energia, Oaten e Cheng (2005)
demonstraram em seu estudo que o esgotamento de recursos autorregulatórios pode reduzir a
participação no exercício. Portanto, ao considerar que os indivíduos se envolvem em diversas
atividades na sua rotina diária, como trabalho, relações e obrigações com familiares, situações
de estresse, os mesmos poderão ter sua capacidade autorregulatória comprometida devido à
exaustão dos recursos de autocontrole, interferindo na sua participação em exercícios
(NEUBACH; SCHMIDT, 2008). Dessa forma, tais descobertas remetem algumas
recomendações importantes para o profissional do exercício: as pessoas não devem assumir
muitas tarefas que exijam altas demandas de autocontrole ao mesmo tempo (MURAVEN;
TICE; BAUMEISTER, 1998) e; deve-se atentar ao estilo de vida dos indivíduos de forma a
planejar adequadamente o treinamento e evitar sobrecargas (HAGGER et al., 2010).
Baumeister e Vohs (2007) identificaram diversos moderadores do efeito de
esgotamento do ego, contudo sugerem três deles para o estudo do comportamento em
contextos de atividade sica/exercício, apontados a seguir: a) Diferenças individuais no
autocontrole: as pessoas apresentarão diferenças nos recursos de autocontrole, pois segundo
Muraven, Tice e Baumeister (1998), o autocontrole do traço modera o efeito das demandas de
autocontrole no desempenho da autorregulação. Dessa forma, pessoas com baixo traço de
autocontrole possivelmente serão mais vulneráveis em seus recursos de autorregulação, sendo
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mais propensas a apresentarem lapsos, enquanto pessoas com alto traço de autocontrole
tenderão a ser mais resistentes aos efeitos deletérios das falhas autorregulatórias (HAGGER et
al., 2010); b) Motivação: o aumento nos veis de motivação tem se mostrado eficaz na
redução dos efeitos deletérios do esgotamento do ego (HAGGER et al., 2010). Considerando
o tipo de motivação, a utilização de estratégias como o enfoque no resultado das tarefas e
recompensas (motivação controlada), ou todos de apoio à autonomia poderão promover
uma motivação mais autodeterminada. Como motivos autodeterminados estão associados à
maior participação e adesão ao exercício, o apoio à autonomia pode ser eficaz na superação de
lapsos na autorregulação e fornecer impulsos para o fortalecimento dos recursos de
autocontrole (RYAN; DECI, 2008); c) Intenções de implementação: trata-se do planejamento
das ações para atingir metas estabelecidas. Considerando que o comportamento ativo requer
considerável autocontrole, as intenções de implementação podem ser uma estratégia eficaz
para evitar lapsos na adesão devido a falhas na autorregulação (HAGGER et al., 2010).
Esses efeitos moderadores do ego fornecem insights importantes para a atuação do
profissional do exercício. O primeiro seria a utilização de estratégias que apoiem a autonomia
como: fornecer justificativa para iniciar o exercício, oportunizar escolha sobre as atividades e
incentivar o desenvolvimento de razões autorreferenciadas para o exercício (HAGGER;
CHATZISARANTIS, 2009). O segundo seria encorajar as pessoas a definir suas intenções de
implementação como parte do seu processo de mudança de comportamento, como por
exemplo, definir rotinas (local da prática, horário) para execução da ação e dessa forma inserir
e buscar consolidar o comportamento ativo no estilo de vida do indivíduo (CHAPMAN;
ARMITAGE; NORMAN, 2009).
O modelo força-energia fornece três hiteses importantes para compreensão da
autorregulação e autocontrole. Como os recursos de autocontrole são finitos e tendem ser
esgotados, a hipótese da conservação sugere que a disponibilidade de tais recursos para
momentos de necessidade é uma resposta adaptativa para maximizar energia para tarefas
determinadas. Assim, os indivíduos com maior autorregulão tendem manipular a
conservação de energia evitando o esgotamento do ego de forma a atender suas demandas
cotidianas (HAGGER et al., 2010). Uma implicação importante para o reestabelecimento dos
níveis de autocontrole é a necessidade de um período de descanso e/ou recuperação
proporcionais aos esforços aplicados na execução de tarefas (MURAVEN; BAUMEISTER,
2000). Em contexto de exercício, a hipótese da recuperação considera a importância no
aconselhamento de pausas entre as sessões e qualidade do sono para plenitude da recuperação
fisiológica, como também nos níveis de autocontrole. Nesse sentido, deve-se considerar a
duração e intensidade das sessões de exercícios e o tempo necessário para restauração total do
indivíduo, visando maximizar o envolvimento subsequente do comportamento ativo
(HAGGER et al., 2010). A hipótese do treinamento sugere que o envolvimento frequente em
tarefas que exigem autocontrole leva as pessoas a melhorar suas capacidades
autorregulatórias. Considerando que o autocontrole é um donio geral, o treinamento de
autocontrole em uma tarefa provavelmente levaa uma melhor capacidade de autorregulação
em outras. Assim, encorajar comportamentos concomitantes que exigem autocontrole pode
levar os indivíduos a mudanças adaptativas para um estilo de vida mais saudável. Contudo, é
importante identificar o estágio de adoção do exercício, pois indivíduos iniciantes terão
maiores demandas em seus recursos de autocontrole, como o planejamento de suas atividades,
e provavelmente terão mais barreiras a serem superadas. Nesse caso, é prudente adiar a
introdução de comportamentos adicionais, como, por exemplo, mudanças no comportamento
alimentar. Assim, o escalonamento gradativo de tarefas que exigem aumentar os níveis de
autocontrole se faz necessário para evitar o esgotamento do ego e favorecer o aprimoramento
da autorregulação que poderá levar ao sucesso de comportamentos saudáveis (HAGGER et
al., 2010).
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Diante do exposto, a autorregulação é entendida como um mediador do
comportamento que envolve: seleção e planejamento de ações para atingir metas; esforços de
autocontrole que serão determinantes em resolões de conflitos entre desejos concorrentes;
monitoramento do processo em busca do objetivo maior, dentre outros. Ou seja, é a
capacidade que o indivíduo possui de exercer controle sobre si mesmo (VAN DAMME et al.,
2009). Aos profissionais do exercício, buscar compreender os diversos fatores psicossociais
que envolvem o comportamento humano, como a motivação, autorregulação e autocontrole,
discutidos nesse ensaio, pode auxiliar na identificação de situações peculiares e facilitar
tomadas de decisões mais conscientes, de forma a promover maior adesão do comportamento
ativo dos alunos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Cid (2010), ao longo dos últimos anos, vários modelos tem sido
desenvolvidos e utilizados na tentativa de compreender, explicar e prever a participação e o
comportamento do indivíduo em contextos de atividade física/exercício. As linhas atuais de
investigação nesta área parecem orientar-se pela necessidade de integração de vários modelos
teóricos, com o objetivo de explicar a participação dos indivíduos na atividade
física/exercício, identificando o valor preditivo das variáveis envolvidas no comportamento
num contexto específico (WEINBERG, 2018).
Considerando os altos níveis de inatividade sica, dificuldades na adoção e adesão de
atividade física/exercícios, aumento de pessoas acometidas de patologias cardiovasculares e
metabólicas, e de outro lado, os avanços da ciência no sentido de compreender o
comportamento humano, torna-se pertinente que os profissionais do exercício se atentem aos
fatores psicossociais como forma de otimizar mudanças importantes no estilo de vida das
pessoas. As diversas argumentações científicas na área da psicologia do esporte e do exercício
físico vêm trazendo teorias, modelos e hipóteses, buscando contribuir nas intervenções
práticas de forma a promover mudanças positivas no cenário atual.
Esse ensaio se propôs a apresentar e trazer algumas reflexões reportadas na literatura,
que as abordagens psicossociais da motivação, autorregulação e autocontrole exercem no
contexto do comportamento da atividade sica/exercício. Acreditamos que muitas das
evidências e hipóteses que tais abordagens sugerem podem auxiliar a prática do profissional
do exercício, no sentido de promover uma prática mais sustentada e, consequentemente,
melhoria na qualidade de vida de seus alunos.
As teorias da motivação, em particular a TAD, trazem evincias e perspectivas que
fornecem uma estrutura amplamente aceita sobre a motivação humana. No contexto do
comportamento do exercício, identificar o tipo de regulação motivacional do aluno pode
fornecer ao profissional insights importantes para fomentar a internalização e integração da
prática sustentada. A teoria aponta que se as necessidades de autonomia, competência e
relacionamentos forem fomentadas e satisfeitas, o indivíduo apresentará maiores
probabilidades de desenvolver uma motivação mais autodeterminada, refletindo
positivamente em comportamentos mais ativos e saudáveis.
Tendo em vista os inúmeros fatores que envolvem o comportamento humano, a
autorregulação e autocontrole podem ser determinantes na adoção/adesão do exercício. Nesse
sentido, compreender as características que envolvem tais fatores como: diferenças
individuais (traço), intenções de implementações (definição, planejamento e execução de
metas), capacidade de resistir a desejos imediatos (autocontrole), podem evitar lapsos
autorregulatórios e facilitar o comprometimento do aluno em busca do comportamento ativo.
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Considerando uma pessoa que inicia a prática de exercícios, muitas provavelmente
apresentarão uma motivação controlada, ou seja, os motivos que originaram a prática podem
ser por recomendações médicas, vontade de melhorar a aparência sica, ou influência de
terceiros. Para Ryan e Deci (2017) a regulação introjetada representa uma internalização
parcial que pode resultar em autocontrole, mas não representa a verdadeira autorregulação, ou
seja, o indivíduo pode aceitar valores ou objetivos sem necessariamente fazer parte de seu
self, mas por motivos externos. Nesse caso, o profissional deve atentar que esse indivíduo
poderá apresentar altas probabilidades de falhas autorregulatórias e baixo autocontrole no
decorrer do processo. Assim, o profissional poderá adotar algumas condutas como: auxiliar o
indivíduo a ter uma justificativa inerente aos seus interesses e objetivos; orientar para a
definição de metas possíveis e realizáveis, evitando frustração em caso de metas impossíveis
ou muito difíceis de serem alcançadas; fornecer feedback positivo sempre que o aluno
apresentar melhoras; auxiliar no planejamento da rotina de exercícios (tipo de exercício,
treinamento, horário) que melhor se adeque ao estilo de vida do aluno; fomentar a autonomia
oportunizando escolhas do tipo de exercício e cargas, elevando assim os níveis de
competência de forma gradativa; promover um clima motivacional favorável no ambiente de
exercício, dentre outros. Tais intervenções vêm sendo apontadas na literatura como
importantes condutas para a prática profissional no sentido de promover uma motivação mais
autodeterminada como também elevando os níveis de autorregulação e autocontrole, o que
pode facilitar o processo de mudança de comportamento.
Na atualidade, há uma prevalência nas academias e demais locais destinados à prática
de exercícios, de pessoas que buscam adotar o comportamento ativo, principalmente por
razões estéticas. Conforme apontado pela TAD, tal motivo representa uma motivação
controlada, ou seja, o indivíduo é regulado externamente em busca de agradar terceiros ou
obter status social. Nesse sentido é importante frisar que tais indivíduos tenderão a apresentar
altas probabilidades de falhas autorregulatórias, pois geralmente almejam metas irreais ou
muito discrepantes com a realidade, o que poderá ocasionar frustrações e abandono da prática.
É importante considerar que independentemente do motivo que originou a adoção do
exercício, os indivíduos apresentarão diferentes atitudes e desempenhos. Por outro lado, os
motivos para a manutenção da prática podem ir modificando à medida que o comportamento
for se tornando mais autodeterminado. Nesse caso, as chances de integração do
comportamento no estilo de vida do indivíduo tornam-se mais previsíveis.
Considerando que a regulação autônoma tende a ser positivamente associada ao bem-
estar psicossocial ao predizer a integração de comportamentos que são percebidos como
intrínsecos ao self, ou seja, quando o indivíduo percebe e reconhece a atividade como
significativa e importante para sua vida, acredita-se que o nível de autocontrole
provavelmente será elevado, reduzindo os riscos de falhas autorregulatórias.
Dessa forma, o profissional do exercício não deve se limitar apenas a questões
específicas relacionadas ao treinamento, à fisiologia ou biomecânica, almejando melhora dos
indicadores antropométricos, evolução da aptidão física ou desempenho atlético. Entendemos
que o atual cenário global reflete uma sociedade cada vez mais inativa, que carece de atenção
e esforços no sentido de continuarmos em busca de ajudar as pessoas a serem mais saudáveis.
Nesse sentido, vale ao profissional do exercício buscar ampliar e atualizar seus
conhecimentos e também sua conduta profissional, no sentido de buscar compreender e
identificar os diversos fatores físicos e psicossociais que interferem no comportamento
humano, auxiliando os alunos na adoção/adesão ao exercício.
Acreditamos que o vasto acervo produzido pela ciência nas últimas décadas vem
fornecendo e contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento e aprimoramento da
prática profissional, no sentido de melhorar a vida das pessoas, porém é necessário apontar
que a investigação científica deve ser contínua e buscar cada vez mais compreender aspectos
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Recebido em: 30 ago. 2023.
Aprovado em: 14 nov. 2023.